Amor de novela
Ela se apaixonou tão logo o conheceu. Foi aquilo que costumam dizer ser o tal de "amor a primeira vista." Ele era um rapaz diferente dos demais. Era mais engraçado, era mais bonito, era até mais inteligente. Estava sempre rodeado de amigos e amigas. Ela era uma dessas amigas que ficavam em volta dele. Ele era o centro daquele pequeno universo de convivência.
Ela demorou muitos meses para dizer o que sentia. Teve várias oportunidades, mas sempre lhe faltava coragem. Às vezes ela até imaginava que ele poderia sentir a mesma coisa, considerando a forma com que ele agia quando a via. A maneira como ele a tratava e as muitas vezes em que encontrava alguma forma de ficar perto dela ou apenas tocá-la. É verdade que ele era assim com quase todo mundo, mas por algum motivo sentia que com ela era diferente.
O grande dia veio em uma festa na casa de uma amiga. Estava todo mundo lá. Muita bebida e muita música. Às vezes eles faziam isso. Era uma junção de gente diferente, pois, vinham os amigos dos amigos que também tinham amigos e no final desse conjunto de pessoas aparecia muita gente que ela nunca vira na vida.
Foi depois de seis latas de cerveja, muito álcool para quem era descrita como fraca para a bebida, com a língua meio enrolada, com os lábios amortecidos e com uma leve dificuldade para ficar em pé, que ela se declarou para ele. Ela nem consegue lembrar exatamente o que disse, tal era o seu estado, mas lembra da resposta dele que não veio por palavras e sim por um caloroso beijo em seus lábios.
Ela dormiu naquela noite sentindo o gosto de morango dos lábios dele. Acordou pensando no amor da sua vida e apesar da dor de cabeça e dos sintomas da ressaca, aquele dia estava especialmente bonito. Mandou uma mensagem para ele, dando apenas um bom dia, não queria parecer uma oferecida. Ele não respondeu. Durante o dia ela enviou outras mensagens despretensiosas, mas ele novamente não respondeu. Visualizou e não respondeu. Ela não entendeu.
Dias depois quando eles se encontraram ele agiu como agirá em todas as outras vezes. Era como se a noite do beijo nunca tivesse acontecido. Ela não sabia se devia falar ou não. Achou melhor pedir para uma amiga sondar o terreno e a resposta foi devastadora: ele se disse arrependido do beijo e que jamais sentiu nada por ela.
Os dias que se passaram foi de extremo sofrimento para aquele jovem coração machucado. Ela até se distanciou dos amigos para não se encontrar com ele, mas a verdade é que quanto mais você corre de uma tentação, mais ela lhe persegue e nos dias que se seguiram ela se encontrou muito mais com ele do que no restante da sua vida. Quando ia ao mercado fazer as compras para a mãe, quem ela encontrava? Ele. Na escola, mesmo sendo de turmas diferentes, quem aparecia em sua frente constantemente? Ele. Até na rua quando estava caminhando despretensiosamente, ela o encontrava do nada.
O tempo passou. O tempo é o remédio para todas as dores de amor e no caso dela, em um coração jovem e galopante, propicio a viver muitos amores, apesar de toda a dor, superou. Voltou a se encontrar com a turma. Ainda sentia algo quando o via, mas agora não era mais boba e nem ficava romanceando algo que nunca iria acontecer.
Conheceu outra pessoa. Um cara legal. Eles até engataram um romance, mas não durou muito. Eram diferentes e ele gostava mais de videogames do que de namoro. No entanto, foi uma experiência que lhe amadureceu significativamente. Depois veio mais um, mas nem chegou a se tornar um romance e ainda teve um terceiro que não passou de um flerte. Mesmo sem que nenhuma dessas histórias tenha evoluído, foram suficientes para ela se recuperar do coração partido.
Ela já nem pensava mais nele, quando numa noite quando estava com as amigas em um bar recebeu uma mensagem: "Preciso falar com você. Pode me encontrar?" Ele escreveu, ela leu e marcou data e horário.
Eles se encontraram. Ele ainda estava bonito. Talvez tivesse ainda mais bonito. O tempo estava fazendo muito bem para ele. Conversaram sobre banalidades por cerca de uma hora, até que do nada ele se declarou para ela. Disse que nunca a esqueceu. Pediu desculpas pela forma com que ele a tratou. Até uma lágrima ela viu correr e molhar seu rosto.
Naquele momento, enquanto ele falava, ela sentiu seu coração bater mais forte. Sentiu dentro de si uma ansiedade, uma agonia, algo que ela não podia entender. Em algum momento da vida, não há a tanto tempo assim, aquelas palavras eram tudo que ela queria ouvir. Um "eu ti amo" proferido pelos lábios com gosto de morango dele foi o que ela mais desejou por longo tempo, mas agora, depois de tudo, a única coisa que ela queria era que ele parasse com aquela choradeira para ela poder voltar para casa e assistir o último capítulo da novela que começaria dali a meia-hora.